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26/07/2012

Educação Ambiental Indígena

por Beatriz Osório Stumpf *

A cultura Guarani traz uma compreensão da natureza como sagrada e viva, refletindo em um modo de vida em que os indígenas não se consideram simples habitantes de um ambiente, mas membros integrantes, vivendo em uma relação de união com o meio natural, em irmandade com os outros seres, os quais são todos espirituais e possuem profundos significados. Suas práticas cotidianas são fundamentadas nesta visão de mundo e em grande conhecimento dos elementos e ciclos naturais, utilizando sistemas de manejo que possibilitam a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, de acordo com a noção de sustentabilidade, tão abordada na atualidade. No entanto, alguns problemas ambientais nas aldeias parecem contraditórios com esta visão, os quais são provenientes de hábitos antigos, já arraigados, como o de jogar o lixo no chão, o que passou a se tornar um fator impactante a partir do uso de produtos não orgânicos, que não foram criados por sua cultura.

O projeto "Ar Água e Terra: Vida e Cultura Guarani", que vem sendo desenvolvido pelo IECAM - Instituto de Estudos Ambientais e Culturais, com o patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental, se dedica a um processo de Educação Ambiental em oito aldeias do Rio Grande do Sul, envolvendo o reflorestamento destas áreas com espécies de uso indígena medicinal, alimentício e artesanal, bem como o destino adequado dos resíduos, de modo a contribuir para a recuperação ambiental e o etnodesenvolvimento.

O presente trabalho se dedica a uma reflexão a partir de uma atuação específica do projeto, com relação ao destino adequado dos resíduos sólidos da Aldeia da Lomba do Pinheiro (Porto Alegre – RS) desenvolvida de forma piloto desde março de 2011 (depois estendidas a outras aldeias), em contínua construção com os Guarani, envolvendo a busca mútua de soluções, através da convivência e diálogo enriquecidos pelas diferenças culturais. Com esta visão, foram realizadas atividades, como oficinas e encontros, direcionadas para adultos, jovens e crianças, contemplando dinâmicas peculiares para cada faixa etária, envolvendo reflexão e ação com relação à questão do lixo. As construções do processo iniciaram com conversas com o cacique, o agente de saúde e os dois professores da aldeia. Atualmente são realizadas reuniões informais em torno do fogo, nas quais o grupo que está mais envolvido com estas questões coloca suas idéias e são tomadas decisões. A partir destas reflexões e atividades, são organizados os elementos estruturais para a separação do lixo. Durante visitas e conversas com as famílias, cada casa recebeu duas latas e um balde, onde foram colocados adesivos para identificação do tipo de lixo, em Português e em Guarani. As latas estão sendo usadas para o lixo seco e comum, e o balde para o lixo orgânico, o qual é levado até uma composteira comunitária.

Este trabalho tem gerado reflexões sobre a importância de atuações educativas ambientais nas aldeias indígenas, em um enfoque multicultural e participativo, fundamentado no diálogo, na construção coletiva e na troca de experiências, idéias e conhecimentos, abrindo possibilidades concretas para um processo de etnodesenvolvimento, a partir do entrelaçamento entre práticas e saberes ecológicos provenientes de diferentes culturas.

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* Educadora Ambiental do IECAM - Instituto de Estudos Culturais e Ambientais. beatrizstumpf@ig.com.br